Egon Dionísio Heck *
À noite veio e com ela a chuva. Dourados amanheceu de cara lavada. As ruas se enfeitaram do verde e amarelo da sibipiruna. Mas, as manifestações e protestos continuarão hoje (15.9).
A violência dentro e fora
A Câmara Municipal de Dourados propiciou mais um triste espetáculo. A grande maioria dos que foram para assistir a anunciada sessão, foram retidos por um batalhão de policiais (mais de 200 mobilizados no esquema de segurança). A população começou a gritar “fichas sujas, lá dentro, aqui fora os ficha limpa”. Lá dentro o faz de conta que tá tudo bem. Escolhe-se uma nova mesa. O presidente preso renuncia. Os suplentes assumem no lugar dos demais presos. Os que já foram soltos se sentem inocentes. Tudo democraticamente recomeçando, como se nada se passasse. Mas a mobilização popular mostra que existe uma consciência clara da gravidade dos fatos, que exigem providências radicais.
Quando um dos populares insistiu em entrar na Câmara, foi imediatamente preso. Foi o suficiente para que a população reagisse buscando romper a barreira policial. Foram imediatamente lançadas bombas de efeito moral e tiros com balas de borracha. A porta de vidro veio abaixo. Chegaram mais policiais. A população revoltada não parava de gritar: os ladrões estão lá dentro. Deixem de reprimir e agredir o povo honesto e trabalhador. Um boneco pendurado e cartazes lembravam o lúgubre realidade, pedindo um descanse em paz, fique longe… Depois de meia hora de violência, algumas pessoas feridas pelas balas e bombas, foram levadas ao hospital. Dentro da Câmara, os vereadores foram literalmente se esconder no plenarinho, pois a sessão foi logo encerrada por falta de segurança.
Destino de Dourados
Conforme o coordenador o coordenador “O destino de Dourados pertence ao povo, é a democracia que nos dá esse direito”. O movimento popular quer a cassação de todos os envolvidos no esquema (dos 11 vereadores, 10 estão envolvidos) de fraudes nas licitações e pagamento de propina. Conforme um dos diretores dos trabalhadores em educação de Dourados “esses vereadores deveriam ter a dignidade de renunciar ao cargo”. O clamor das ruas é por nova eleição para prefeito. Conforme uma enquete realizada pelo jornal eletrônico Campo Grande News, com 1.563 pessoas em Dourados, 81%, ou seja, 1.270 disseram que deve haver novas eleições.
Racismo e indignação
No jornal eletrônico Dourados News, após a descrição dos acontecimentos na Câmara de Vereadores de Dourados, um leitor identificado como Henrique postou o seguinte comentário “Essa quadrilha de vereadores que invadiram nosso querido Dourados subestimaram a força e indignação do povo Douradense, aqui não tem só índios se enforcando e tráfico de drogas, tem muita gente boa, honesta e trabalhadora e que não aceita e nem engole essa ladroagem aos cofres públicos… JUSTIÇA JÁ, URGENTE, RENUNCIA JÁ”.
É pena que o leitor, que com tanta veemência manifestou sua indignação não tenha se libertado de seu preconceito e racismo contra os índios, se perguntando se esses enforcamentos e drogas não são exatamente fruto dessa mentalidade e política da elite que se enricou nessa região através dos mais diversos estratagemas, mas principalmente pela invasão de terras indígenas e usurpação dos recursos naturais. É lamentável que a indignação também não se volte sobre a entrega de grande parte das terras aos estrangeiros, grandes grupos multinacionais ligados à agroindústria e agronegócio.
É importante lembrar ao indignado leitor que de nada resolve trocar simplesmente de vereadores e prefeito, se não mudar o sistema de gera e acoberta essas roubalheiras. Sugerimos que aproveite o ensejo e em sua luta por justiça e dignidade peça a imediata demarcação de todas as terras indígenas e quilombolas, sem terra e sem teto.
Movimento Povo Guarani Grande Povo
Dourados, 14 de setembro de 2010