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Ação Cultural no Quilombo de Cambury 15 a 20 novembro

Está chegando a hora de comemorarmos a SEMANA CONSCIÊNCIA NEGRA!!!

Participe e convide os seus amigos!!!

PROGRAMAÇÃO

“Oficinas de Memória: Arte, Cultura e Informação”

15 a 20 de Novembro 2012

Escolinha Jambeiro, Cambury, Ubatuba, SP

escolinhajambeiro@gmail.com

15 nov (quinta-feira) ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||

10h – APRESENTAÇÃO

Início Oficina

DESENHO BÁSICO

MOSTRA GRAVURAS

DJANIRA/PINACOTECA

14h – NARRATIVA

Jogo do conto

Memória oral/escrita

17h Saberes locais (vídeos)

Canoa Caiçara *, 2009, col., 25 m.

Casa da Farinha, 1970, col., 13 m.

Pesquisar Infoteca digitalEMC

18h – Bate papo – Conversa

16 nov (sexta-feira) ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||

10h – XILOGRAVURA

TÉCNICA ENTALHE

14h – CORDEL

LEITURA

PESQUISA (biblioteca/internet)

Filme Mostra –Tarde/Noite

CAFUNDÓ *, BRA, 2006, col., 101 m.

Bate papo – Conversa

17 nov (sábado) |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||

MATINÊ – Filme Mostra

14h – Kiriku e a feiticeira*, 1998, col., 71m.

Bate papo – Conversa

19h – ENCONTRO MUSICAL

Cantos Afro e Caiçara (audições)

Filme Mostra –Tarde/Noite

BESOURO *, BRA, 2009, col., 94 m.

Bate papo – Conversa

18 nov (domingo) |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||

10h – XILOGRAVURA

TÉCNICA ENTALHE

14h – XILOGRAVURA

TÉCNICA IMPRESSÃO

16h – EXPERIMENTAÇÃO MUSICAL

Memória Auditiva

Filme Mostra – Tarde/Noite

CHICO REI *, BRA, 1986, col., 115 m.

Bate papo – Conversa

19 nov (segunda-feira)||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||

9h

OFICINA DE RESTAURO E CRIAÇÃO DE INSTRUMENTOS MUSICAIS

Ensaios / secagem de impressões

Filme Mostra – Tarde

Atabaque de nzinga*, BRA, 2007, 87 min.

Ori*, BRA, 1989, 53 min.

Bate papo – Conversa

20 nov – Dia Nacional da Consciência Negra ||||||||||||||||||||||||

9 às 18hs

EXPOSIÇÃO

FOTOGRAFIA DESENHO, XILOGRAVURA

MOSTRA DE CURTAS – CINEPIPOCA**

Construtores – Zumbi

Dos grilhões ao quilombo

Retrato em preto e branco

LANCHE COLETIVO – FESTA

RODA

DANÇA

CIRANDA

Circo Aries Marioto

CAPOEIRA

O CONVITE ESTÁ ABERTO A TODOS QUE DESEJAM PARTICIPAR.

(?) Horários a confirmar no local.

Poderá haver remanejamento dos filmes e horários.

(*) Idade recomendada: Acima dos 12 anos.

(**) Censura livre.

Inscrições para as Oficinas podem ser feitas no local.

Todas as Atividades Culturais são GRATUITAS e abertas aos participantes!

Divulgue no seu Twitter – Oficinas de Memória: Arte, Cultura e Informação: http://estacaomemoriacamburi.wordpress.com/2012/11/05/oficinas-de-memoria-arte-cultura-e-informacao/

Agricultura sustentável, Agroecologia, Gestão ambiental, Sustentabilidade socioambiental

Livro relata o processo de gestão ambiental de uma Unidade de Conservação

14/09/2011, Por Mônica Pileggi

Agência FAPESP – Aproximar o leitor do processo de gestão de uma Unidade de Conservação abordando os pilares da sustentabilidade – ecologicamente correto, economicamente viável, socialmente justo e culturalmente aceito – é a proposta do livro Sustentabilidade, Qualidade de Vida e Identidade Local – Olhares sobre as APAs Cantareira, SP, e Fernão Dias, MG.

Organizado pelos professores João Luiz de Moraes Hoeffel e Almerinda Antonia Barbosa Fadini, do Centro de Estudos Ambientais da Universidade São Francisco (CEA-USF), em Bragança Paulista, e Sônia Regina da Cal Seixas, do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais da Universidade Estadual de Campinas (NEPAM-Unicamp), o livro contou com apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Publicações.

Livro relata o processo de gestão de uma Unidade de Conservação a partir de estudos realizados nas Áreas de Proteção Ambiental Sistema Cantareira (SP) e Fernão Dias (MG)

A obra, que expõe análises sobre questões socioambientais regionais, teve origem a partir de um simpósio realizado em 2008 com o objetivo de discutir a Área de Proteção Ambiental (APA) como uma Unidade de Conservação de uso sustentável e as estratégias de gestão e planejamento adotadas.

“O livro reúne os resultados gerais de seis projetos de pesquisa, sob a coordenação e colaboração dos três organizadores, desenvolvidos ao longo de aproximadamente dez anos”, disse Hoeffel à Agência FAPESP.

Destinado a profissionais e gestores das áreas de planejamento, educação ambiental e conservação de recursos naturais, assim como professores e alunos de graduação e pós-graduação interessados no tema, o livro buscou identificar os problemas socioambientais que ocorrem nas APAs do Sistema Cantareira (São Paulo) – que abrange os rios Piracicaba e Juqueri-Mirim – e Fernão Dias (Minas Gerais) e como têm sido enfrentados por seus moradores.

São dez capítulos, sendo os três primeiros voltados à reflexão dos estudos de caracterização do território das APAs do Sistema Cantareira e Fernão Dias. Os demais tratam da cultura e tradição locais, gestão compartilhada e participativa, uso e ocupação do solo e a apresentação de iniciativas e perspectivas sobre a qualidade de vida, transformações sociais e ambientais decorrentes do turismo.

Entre os fatores preocupantes apontados por Hoeffel estão a expansão urbana em torno das APAs, seus impactos na qualidade e quantidade de água e os remanescentes de vegetação da região, o aumento da atividade turística e a participação insipiente da população local nas políticas de conservação dos recursos naturais e hídricos.

“A falta de conhecimento pela população é grande não apenas com relação às características ambientais regionais, mas também sobre o enquadramento dessas áreas de proteção ambiental em uma Unidade de Conservação”, ressaltou. “Há ainda a questão da industrialização. Dependendo de como esse processo ocorre, também poderá gerar uma alteração ambiental.”

Com a publicação, os autores esperam apoiar políticas públicas voltadas à ocupação mais atenta às peculiaridades das duas APAs, além de contribuir para a sustentabilidade local.

“Para isso, também é necessária a realização de um trabalho de educação ambiental e de divulgação efetivo para que a população possa ser mais participativa”, disse.

Sustentabilidade, Qualidade de Vida e Identidade Local – Olhares sobre as APAs Cantareira, SP, e Fernão Dias, MG
Organizadores: João Luiz de Moraes Hoeffel, Almerinda Antonia Barbosa Fadini e Sônia Regina da Cal Seixas
Lançamento: 2011
Preço: R$ 49,95
Páginas: 195
Mais informações: www.rimaeditora.com.br 

Código florestal, sustentabilidade

“Estão usando o Código Florestal para destruir as florestas”, diz Marina Silva

Parlamentares ligados ao agronegócio estão fazendo pressão para aprovar as mudanças no Código Florestal ainda neste ano.  O novo texto é do deputado federal Aldo Rebelo (PcdoB-SP) e já foi aprovado em comissão especial.

O texto do deputado é criticado pelos ambientalistas e movimentos sociais.  Entre as principais críticas está a redução das áreas de Reserva Legal nas propriedades particulares, o perdão das multas aplicadas em proprietários que desmataram até julho de 2008 e a flexibilização da produção agropecuária em Áreas de Proteção Permanente (APPs). O texto também prevê a ampliação da autonomia dos estados para legislar sobre meio ambiente.

Em entrevista à Radioagência NP, a senadora Marina Silva (PV) – que ficou em terceiro lugar nas eleições presidenciais com 20 milhões de votos – concorda que deve haver mudanças no Código Florestal que já completou 45 anos. Porém, ela explica que os pontos que alimentam a polêmica são complexos e não podem ser tratados no imediatismo, como quer o setor ruralista. Ela defende uma votação somente para a próxima legislatura e afirma que “estão querendo usar o Código Florestal para promover a destruição da floresta.” Leia a primeira parte da entrevista

Radioagência NP: Como a senadora avalia o Código Florestal vigente no país?

Marina Silva: O código, há décadas, está ajudando as florestas brasileiras. É claro que ele precisa de atualização, mas não para flexibilizar, no sentido de permitir a destruição das florestas. Tivemos a Constituição de 1988 que estabelece o meio ambiente como direito de todos os cidadãos brasileiros. A atualização deve ser para que o uso sustentável da floresta possa ser viabilizado, e não para a finalidade que se propõe o relatório do deputado Aldo Rabelo, que é a flexibilização da legislação para permitir o avanço sobre as áreas florestadas e promover o perdão e a anistia para os devastadores ilegais.

RNP: Por que a senadora considera o texto um grande retrocesso na proteção dos recursos florestais?

MS: O texto é um retrocesso na legislação ambiental e parte de uma premissa errada. O Código Florestal é para proteger florestas, mas as pessoas estão invertendo a equação. Estão querendo usar o Código Florestal para promover a destruição da floresta. Isso é um contrassenso, um paradoxo total.

RNP: Quais impactos que serão causados no meio ambiente se o texto for aprovado?

MS: A ampliação do corte raso sobre as áreas florestadas, pois vai mexer com a Reserva Legal. Outro problema é a anistia para os que desmataram 40 milhões de hectares de forma ilegal. A terceira consequência é as metas que o governo brasileiro assumiu em Copenhague. Se tiver a mudança no Código Florestal e na lei que regulamenta o artigo 23 que também está tramitando no senado, que graças a uma emenda do deputado Paulo Teixeira (PT/SP), que retira as competências do Ibama para fiscalizar desmatamento e aplicar multa, isso “vai juntar a fome com a vontade de comer” no que diz respeito no que concerne a destruição da floresta.  Flexibiliza o Código de um lado, e retira a competência dos órgãos fiscalizadores que têm condições de algum controle de fiscalizar e aplicar multa.

RNP: A bancada ruralista quer a votação das mudanças ainda neste ano.   Por que essa pressão está ocorrendo?

MS: Há um interesse muito grande do governo de aprovar essas questões ainda nesta legislatura. Isso é para não deixar nenhum desconforto para o próximo governo, fato que será lamentável. Primeiro porque houve um compromisso na campanha da Dilma de que se ganhasse, e essas propostas passassem, ela iria vetar. E se agora for votada, aprovada e sancionada pelo atual governo, a presidente não poderá vetar. Outro fato grave é que grande parte dos parlamentares dessa legislatura não foram reeleitos, ou seja, depois não terá como a sociedade cobrar.

RNP: Então a senadora defende a votação para a próxima legislatura?

MS: Esse debate tem que ficar para o próximo ano.  Deve ser ampliado para a participação da sociedade, da comunidade científica e principalmente com os novos parlamentares. Como vamos fazer um debate tão importante na última hora, no final de uma legislatura?

RNP: A proposta de um novo Código veio do deputado Aldo Rebelo (PSdoB). Foi uma surpresa?

MS: Nem PT, nem PSDB, nem qualquer partido de transição democrática de esquerda foram capazes de perceber a questão ambiental na sua complexidade e essência. Eles tratam essas questões como se fosse um empecilho para o desenvolvimento, como se fosse interesses externos querendo prejudicar os interesses nacionais. É uma visão não atualizada do problema. Não conseguiram perceber que esse é o desafio do século. Não devemos ter uma visão mesquinha do problema. É preciso ter atitude integradora dos diferentes seguimentos. Ninguém pode ser exclusivo em relação a essa bandeira.

RNP: Senadora, o setor do agronegócio diz que o atual código atrapalha no desenvolvimento do Brasil, principalmente no setor agrícola, a senadora concorda?

MS: É perfeitamente possível ter uma agricultura vigorosa, tanto para a pequena e média com a proteção das florestas. Não é correto colocar essa oposição; proteção das floretas e agricultura.  Alias, a destruição das florestas levará, necessariamente, a um prejuízo para a agricultura brasileira.  Se não diminuirmos a emissão de CO2 vamos ter a elevação do clima, fato que vai prejudicar todas as culturas brasileiras. A proteção da biodiversidade promove vantagens para a agricultura em função dos serviços ambientais que ela presta.

RNP: O governo vai apresentar uma proposta como alternativa de mudança. É uma proposta mais avançada?

MA: Não conheço a proposta do governo. Para mim, qualquer proposta que seja feita em quatro paredes, de uma discussão complexa como essa, e que não seja debatida com diferentes segmentos da sociedade, ouvindo também os especialistas, no meu entendimento não nos levará a lugar nenhum.  Temos que compatibilizar os resultados que queremos e o processo que nos levará ao resultado. Para se ter uma boa proposta é preciso um grande respaldo da sociedade e dialogar com vários setores. Os ajustes para serem feitos, não devem ser feitos em prejuízos dos avanços da legislação ambiental, mas sim, no sentido de corrigir alguns aspectos que precisam ser corrigidos.

RNP: Para movimentos sociais e ambientalistas a proposta de alteração beneficia os latifundiários do agronegócio. Em contrapartida a nova proposta prejudica os pequenos produtores e a reforma agrária?

MA: Essa nova proposta vai prejudicar todo mundo. É por isso que essa questão ambiental não tem um recorte muito claro em relação entre grandes e pequenos, pobres e ricos. Mas é claro que os mais prejudicados serão os pequenos agricultores. O avanço sobre as florestas com certeza vai prejudicar terras indígenas, ribeirinho e extrativista de modo geral.

De São Paulo, da Radioagência NP, Danilo Augusto, 06/12/10.

Fonte: http://www.radioagencianp.com.br/9336-EstAo-usando-O-COdigo-Florestal-para-destruir-as-florestas-diz-Marina-Silva-%28II%29

Direitos humanos, Ecologia, Movimentos Sociais

Entrevista com Antonia Melo – liderança do Movimento Xingu Vivo Para Sempre

A construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte tem gerado inúmeras discussões. De um lado, construtoras e representantes do agronegócio dizem maravilhas sobre a obra. De outro, movimentos sociais, ONGs, comunidades originais e ambientalistas chamam a atenção para a grande catástrofe ambiental e social que a usina trará para a região Amazônica, gerando pouca energia em relação ao impacto que causará e beneficiando somente interesses privados.

Ultimamente, as intensas mobilizações capitaneadas pelos movimentos da região conseguiram furar o bloqueio da grande imprensa e apareceram nos principais veículos de comunicação brasileiros e internacionais. A luta atraiu a atenção de ativistas de outros países, que foram à região prestar solidariedade e se manifestar contra a instalação de Belo Monte. Como em poucos momentos, foi possível colocar para a sociedade uma visão contra-hegemônica sobre determinado tema.

Entre os protagonistas da luta contra a construção de Belo Monte está o Xingu Vivo Para Sempre. Antonia Melo, coordenadora do movimento, coloca, em entrevista concedida à ABONG, o contexto e perspectivas de uma briga que ainda está longe de terminar, abordando os impactos da obra da usina para as populações da Amazônia e discutindo também o papel fundamental das mulheres nesta resistência.

Entrevista

1. Segundo o governo federal, a usina de Belo Monte deverá melhorar o fornecimento de energia para a região Amazônica. Mas, os movimentos sociais da região questionam o enorme impacto ambiental e social da obra. O que acontecerá com a região se a usina for efetivamente construída? De que forma o meio ambiente e as populações locais serão prejudicados?

A região seria literalmente destruída em todos os aspectos ambientais, sociais, étnicos, culturais e econômicos, com a destruição ambiental da fauna e flora e da vida das pessoas. Famílias sendo expulsas de suas casas, de suas terras, perdendo seus bens, populações que há décadas vivem e convivem com suas raízes e fortes laços culturais de geração em geração, como, por exemplo, os(as) indígenas, ribeirinhos(as), pescadores(as), extrativistas, agricultores(as) e mesmo as famílias que moram nas cidades. A destruição econômica pelo saque e morte dos recursos naturais, florestas, águas, rios, igarapés, terras, peixes, produtos agrícolas, perdas de costumes, sítios sagrados como cemitérios, locais de rituais, desestruturação da rede social, perda das relações familiares, de vizinhança, de solidariedade, se perde para as futuras gerações a história de vida destes povos. A região seria prejudicada com a vinda de mais de 100 mil pessoas, que trariam novas doenças, aumento da violência, prostituição, e prostituição infantil, exacerbando conflitos sociais, fundiários, potencializando as invasões das Unidades de Conservação e terras indígenas que juntas totalizam mais da metade do território da bacia hidrográfica do Rio Xingu.

2. A quem realmente interessa e quais grupos econômicos se beneficiarão da construção de Belo Monte?

As grandes construtoras e grupos econômicos eletrointensivos, responsáveis pela exploração dos minérios e produção de alumínio voltada para o mercado de exportação e os grupos políticos que se beneficiam do financiamento de suas campanhas eleitorais.

3. As mobilizações populares contra a construção da usina alcançaram vitórias e receberam boa cobertura da imprensa nacional e internacional. Como os protestos foram organizados e quais movimentos participam deles?

É verdade. Além do trabalho de base feito com as comunidades da região, tudo isso só está sendo possível através de uma ampla articulação e aliança do Movimento Xingu Vivo para Sempre com importantes atores(atrizes) sociais: pesquisadores(as) de diversas instituições nacionais e internacionais, movimentos e redes sociais, instituições e organismos da Igreja Católica (Prelazia do Xingu e CNBB), Movimentos Indígenas e organizações da sociedade civil (de direitos humanos, socioambientais, indigenistas). A adesão de celebridades internacionais (James Cameron e Sigourney Weaver), engajadas na defesa de questões socioambientais, trouxe ampla visibilidade internacional e fomentou o interesse por parte da mídia e da sociedade brasileira. Todos esses atores(atrizes) lograram se unir em torno de uma causa comum que é a defesa do Rio Xingu e de seus povos.

4. Quais foram os resultados dessas grandes mobilizações?

Além do fortalecimento desta aliança e das redes sociais, tornou publico o debate e a polêmica sobre Belo Monte, a política energética brasileira e o modelo de desenvolvimento vigente para Amazônia, construído na ditadura militar e pautado na usurpação de seus recursos naturais, em que os lucros são apropriados somente por alguns grupos privados enquanto seus impactos são absorvidos pelas populações locais. Grande visibilidade internacional e aumento da pressão política sobre os governantes responsáveis pelo projeto. Estamos iniciando uma forte aliança dos rios Xingu, Tapajós e Madeira, e no futuro próximo promover uma mobilização em defesa dos Rios da Amazônia e contra os projetos de morte e destruição do PAC do Governo Federal.

5. Quais são as próximas perspectivas para o movimento que quer barrar a construção de Belo Monte? Quais formas de luta serão adotadas?

Fortalecimento e expansão das alianças, apoio aos movimentos sociais e indígenas, fortalecimento das comunidades e populações locais na luta por seus direitos, ampliar a visibilidade nacional e internacional através da adesão de pessoas conhecidas e reconhecidas na luta em defesa de um mundo mais justo e socioambientalmente mais responsável. Continuar organizando as manifestações e mobilizações contra Belo Monte, sensibilizar cada vez mais a sociedade sobre a inviabilidade deste projeto que só trará morte para as populações locais e o Xingu. Pautar junto à sociedade e ao governo, a necessidade urgente de mudança deste modelo de desenvolvimento e de política energética que estão ultrapassados porque excluem os novos paradigmas socioambientais, culturais, democráticos e de respeito aos direitos fundamentais das futuras gerações. O planeta hoje exige mudanças!

Toda essa luta em defesa do rio Xingu esta inserida num contexto maior de defesa e garantias dos bens comuns de toda a sociedade e, portanto, esta é uma luta de todos e todas. O rio Xingu é um bem comum, de uso coletivo sendo a luta por sua defesa, uma responsabilidade coletiva.

6. As mulheres desempenham um papel protagonista nesta luta? De que forma a construção da usina vai afetá-las?

Sim, pelo empenho, incansáveis lutadoras que, desde 1989, vêm desempenhando ações em defesa das águas, dos rios, do meio ambiente e dos direitos humanos, articuladas com diversos movimentos e organizações de mulheres no estado do Pará, mas também em nível nacional. E principalmente neste momento de iminente ameaça à vida, em que o governo Lula, juntamente com seus(uas) aliados(as) decidiram empurrar goela abaixo um projeto varias vezes abortado por conta da não-aceitação pelas populações locais, assim como pela luta travada pelos movimentos sociais e indígenas, as mulheres ocupam uma posição de destaque, à frente de diversas organizações e movimentos sociais.

A exemplo das inúmeras barragens construídas Brasil afora, as mulheres e as crianças são as principais vítimas deste modelo desenvolvimentista que traz a miséria, a desestruturação familiar, o desemprego e a violência nas suas diversas formas (domestica e familiar, prostituição, exploração de mão de obra barata, escrava e infantil, vitimas de doenças e fome). Perdem seus modos de vida tradicionais, o acesso aos recursos básicos que sustentam esses modos de vida, passam a viver em condições indignas de moradia, sujeitas à insegurança alimentar, ao estresse e às doenças que resultam em perdas irreparáveis como depressão, problemas psicológicos, ansiedade, insegurança quanto ao futuro, perda da identidade e de garantia de seus direitos fundamentais.

Fonte: ABONG – http://www.abong.org.br/

Amazônia, sustentabilidade

Belo Monte: doze questões sem resposta

Encravado na Amazônia brasileira, o Xingu é um dos mais importantes rios da região. Dele dependem aproximadamente 14 mil indígenas do Mato Grosso e Pará, além de centenas de comunidades compostas por ribeirinhos, pescadores, extrativistas, quilombolas e agricultores familiares. Tiram sua alimentação das águas deste rio, e o utilizam como meio de transporte — não raro, o único. Antes das expedições holandesas, inglesas e portuguesas ao Xingu, ocorridas principalmente no século 17, a população indígena era muito maior, com aldeias que contabilizavam até 3 mil habitantes. Com o passar do tempo, a situação só tem se agravado para as comunidades originárias e tradicionais existentes na região.

Em 1975, sob o comando dos militares que governavam o Brasil desde o golpe de Estado de 1964, a Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A (Eletronorte) iniciou os estudos do Inventário Hidrelétrico da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu, primeiro passo no projeto de construção da Usina Hidrelétrica (UHE) de Belo Monte. Foi responsável por este levantamento o Consórcio Nacional de Engenheiros Consultores S.A (CNEC Engenharia), empresa naquele momento integrante do grupo Camargo Correa, um dos maiores interessados em participar do processo de construção de Belo Monte.

O ano de 1989 é um marco no processo de resistência ao então chamado Complexo Hidrelétrico do Xingu (o conjunto então proposto, sete barragens no curso do rio). Ralizou-se em Altamira, Pará, o 1º Encontro dos Povos Indígenas do Xingu. Reuniu aproximadamente 3 mil pessoas, entre lideranças indígenas como Raoni Metuktire (cacique Kayapó), Marcos Terena e Ailton Krenak; o então diretor da Eletronorte José Antônio Muniz Lopes (que se tornou presidente da Eletronorte no governo FHC e preside agora a Eletrobrás; o cantor inglês Sting; além de centenas de ambientalistas e jornalistas.

A enorme indignação dos indígenas e demais povos da floresta, e sua intensa repercussão internacional, forçaram o governo a recuar, mudar de estratégia e refazer seu projeto. Porém a ponto de levar empresários e políticos influentes a desistir de suas intenções iniciais. Dezesseis anos depois, em agosto de 2005, a Eletrobrás firmou acordo de cooperação com as construtoras Norberto Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Correa para a conclusão dos Estudos de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental da UHE Belo Monte. Em maio de 2009 o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) foram entregues ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), órgão brasileiro responsável pela análise destes documentos e posterior emissão das licenças para a realização do leilão e obras da hidrelétrica.

Em fevereiro de 2010, o governo brasileiro emitiu a chamada Licença Prévia (LP) que autoriza o leilão de Belo Monte. Além das empreiteiras já citadas, teve apoio do grupo francês GDF Suez; de importantes grupos eletrointensivos e mineradores, como Votorantim, Vale e Alcoa; diversos empresários; governadores, prefeitos e parlamentares. Mas por que os povos do Xingu lutam, há mais de vinte anos, contra a construção desta hidrelétrica — apelidada de “Belo Monstro” pelos moradores e moradores da região? A resposta parece ser clara para quem conhece a floresta e o rio, mas aparentemente “incompreensível” para quem mora a milhares de quilômetros de distância, no centro-sul do Brasil.

O EIA/RIMA de Belo Monte foi elaborado pela Leme Engenharia, afiliada ao Grupo Tractebel Engineering, por sua vez vinculado ao grupo GDF Suez, um dos possíveis participantes do leilão para construção da UHE Belo Monte. Em outubro de 2009, cinco meses após a versão final do documento ter sido entregue ao Ibama, chegou ao mesmo órgão, e ao Ministério Público Federal (MPF), um relatório alternativo, de 230 páginas, intitulado “Analise Crítica do Estudo de Impacto Ambiental do Aproveitamento Hidrelétrico de Belo Monte”. Foi elaborado por mais de quarenta pesquisadores. Antropólogos, sociólogos, zoólogos, biólogos, etimólogos, doutores em energia e planejamento de sistemas energéticos, historiadores, cientistas políticos, economistas, engenheiros, hidrólogos, ictiólogos, entre outros, compõem um grupo denominado Painel de Especialistas. Ligados a universidades e centros de pesquisas nacionais e internacionais, eles fizeram uma análise detalhada dos estudos de Belo Monte.

Geração média será muito menor que a anunciada.
Lago desalojará 20 mil famílias e custo
da obra, financiado pelo BNDES, pode chegar a R$ 30 bi

Seu relatório levanta várias interrogações ainda sem respostas, além de diversas outras questões que foram abordadas de forma incorreta ou inconsistente no EIA elaborado pela empresa contratada pela Eletrobrás. Reúne uma grande quantidade de informações instigantes.

1. O primeiro fator a chamar atenção – e um dos menos destacados pelo governo federal – é a destinação da energia a ser gerada UHE Belo Monte. Aproximadamente 80% da eletricidade atenderá as empresas do Centro-Sul do país. Até 20%, caso a negociação realizada entre a União e o governo do Pará se concretize, ficarão para atender empresas eletrointensivas deste estado, principalmente as Vale e Alcoa. Gerarão vantagens competitivas para estes grupos no cenário internacional, mas não proverão nem 1 quilowatt (KW) para as comunidades amazônicas que até hoje não possuem energia elétrica.

2. Também não é divulgado que a energia prometida (aproximadamente 11 mil megawatt (MW), só será entregue durante quatro meses no ano. Em outros quatro meses a usina funcionará apenas com 30% a 40% de sua capacidade máxima; nos quatro meses restantes, não gerará praticamente nenhuma energia. A média anual ficará em torno de 4,5 mil MW, segundo os dados da própria Eletrobrás – uma média muito baixa quando se faz a relação custo-benefício, podendo inclusive inviabilizar financeiramente o projeto.

3. O estudo entregue pela Eletrobrás ao IBAMA não informa que mais de 20 mil pessoas serão obrigatoriamente deslocadas das áreas onde vivem, deixando para trás suas relações sociais e econômicas, além de elementos materiais de suas memórias. Chama atenção que o EIA utiliza como parâmetro a média brasileira de componentes por grupo familiar, entre três e quatro pessoas. Na região amazônica, porém, a média é outra. A bibliografia disponível indica que o grupo familiar é composto, em média, por 5,5 a 7 pessoas. As conseqüências deste equivoco são graves, pois ao subestimar a população remanejada não é possível pensar corretamente as estruturas e equipamentos sociais necessários para atender quem precisará de moradia, escola, posto de saúde, estradas e outros equipamentos públicos. Problemas semelhantes já se manifestaram nas construções das hidrelétricas de Tucuruí (PA), Balbina (AM) e Samuel (RO).

4. O EIA de Belo Monte afirma que o reservatório, com 516 Km², atingirá diretamente três municípios: Altamira, Vitória do Xingu e Brasil Novo. Porém, especialistas afirmam que Anapu e Senador José Porfírio também serão afetados pelo lago. O estudo oficial diz que onze municípios sofrerão impactos sócio-econômicos e ambientais da hidrelétrica: Altamira, Senador José Porfírio, Anapu, Vitória do Xingu, Pacajá, Placas, Porto de Moz, Uruará, Brasil Novo, Gurupá e Medicilândia, perfazendo mais de 300 mil habitantes. Pautado nesta informação, o MPF tem apresentado uma das contestações ao processo de licenciamento. Se o próprio EIA informa que onze municípios sofrerão impactos, sustentam os procuradores do Ministério Público, então não são suficientes as quatro audiências públicas realizadas – em Belém, Altamira, Brasil Novo e Vitória do Xingu. Faltaram a participação, o amplo debate e os esclarecimentos à população afetada, razões de ser das audiências.

5. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME), afirmou, em outubro de 2009, que o custo de Belo Monte seria 16 bilhões de reais. Cinco meses depois, e um mês após a emissão da LP, a EPE reavaliou este custo, estimando-o em aproximadamente R$ 20 bilhões. As empreiteiras, principais interessadas na construção da usina, avaliam que o valor final não será menor que R$ 30 bilhões. Esta indefinição sobre o custo total da obra impossibilita uma segura avaliação em relação ao custo-benefício e à viabilidade econômica. É importante frisar que não estão sendo consideradas a rede de transmissão de energia, subestações, e outras estruturas necessárias ao completo funcionamento do complexo hidrelétrico. Em março de 2010, a EPE também elevou, em mais de 20% (de R$ 68 para R$ 83), o preço-teto da energia vendida nos leilões da Usina de Belo Monte.

6. Os empreendedores estimam que aproximadamente 100 mil pessoas migrarão para a região, principalmente rumo à cidade de Altamira. Alguns especialistas falam que este número, como outros informados pelo governo, também está subestimado. Calculam, amparados no que ocorreu em obras semelhantes, um mínimo de 150 mil pessoas. A Eletrobrás observa no EIA/RIMA que 18 mil empregos diretos serão gerados no pico da obra, no terceiro e o quarto anos de construção. Somados os 23 mil empregos indiretos previstos, seriam 41 mil postos de trabalho. Nas contas do próprio governo, portanto, aproximadamente 60 mil pessoas que migrarão não terão emprego em nenhum momento. A obra deve durar dez anos. No final da construção, a quantidade de empregos estimados é de apenas 700 diretos e 2.700 indiretos. O EIA/RIMA avalia que 32 mil migrantes deverão ficar na região após o termino da obra, a maioria em Altamira.

Índios não foram ouvidos adequadamente. Emissões
de gases-estufa podem estar subestimadas. Certas condições do
Ibama só serão conferidas anos após conclusão da usina

7. De acordo com o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) o metano (CH4) é um gás de efeito-estufa que causa um impacto 25 vezes maior no aquecimento global que o gás carbônico, por tonelada emitida. As hidrelétricas são responsáveis pela liberação de metano, pois a vegetação que fica submersa com a formação do lago (no caso de Belo Monte, com mais de 500 Km²), libera, ao se decompor, grandes quantidades do gás. A produção de CH4 também ocorre com o processo de passagem da água pelas turbinas e vertedouros da hidrelétrica, algo ignorado pelo EIA/RIMA. As grandes hidrelétricas agravam em especial esta situação, pois quanto maiores a área alagada, e a água movimentada, maior a emissão de metano.

8. O EIA/RIMA afirma que serão afetadas diretamente pela usina de Belo Monte as Terras Indígenas Paquiçamba (do povo Juruna), e Arara da Volta Grande do Xingu (do povo Arara), além da Área Indígena Juruna do Quilômetro 17 (também do povo Juruna). O Conselho Indigenista Missionário (CIMI) afirma que também será afetada diretamente a Terra Indígena Trincheira Bacajá (dos povos Kayapó e Xicrin). Porém, mesmo reconhecendo este impacto direto, o governo recusa-se a realizar as oitivas indígenas, conforme determinam o artigo 231 da Constituição e a convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário. Este também é um dos principais questionamentos levantados pelo Ministério Público Federal.

9. Com a construção da barragem principal da usina de Belo Monte, uma área de aproximadamente 100 quilômetros, na chamada Volta Grande do Xingu, terá a sua vazão de água reduzida a algo em torno de 30% do fluxo atual. Sobre isso, o parecer técnico nº114/2009, assinado por seis analistas ambientais do Ibama, e um dos documentos básicos para a emissão da LP, é claro. Diz o parecer: “o estudo sobre o hidrograma de consenso não apresenta informações que concluam acerca da manutenção da biodiversidade, a navegabilidade e as condições de vida das populações do TVR [Trecho de Vazão Reduzida]”.

10. Para que as águas do rio Xingu possam fluir da barragem principal até as vinte turbinas que estão previstas para Belo Monte, serão abertos dois gigantescos canais no meio da floresta, o que movimentará aproximadamente 150 milhões de metros cúbicos de terra, e 60 milhões de metros cúbicos de rocha, equivalentes à movimentação de material realizada na abertura do Canal do Panamá. Os impactos não foram totalmente contabilizados no EIA/RIMA de Belo Monte, além de não ter sido fornecida informação clara sobre o local onde o material retirado será depositado, caso a obra avance.

11. O parecer técnico nº114/2009 também afirma que “tendo em vista o prazo estipulado pela Presidência [do IBAMA], esta equipe não concluiu sua analise a contento. Algumas questões não puderam ser analisadas na profundidade apropriada, dentre elas as questões indígenas e as contribuições das audiências públicas”. Porém, em relação ao que puderam identificar, os analistas ambientais destacam, além das questões referentes ao TVR, o não-dimensionamento a contento dos impactos decorrentes do afluxo populacional para a região. Em consequência, podem ser insuficientes as medidas que tentarão preparar a região para receber tal afluxo, além de estar indefinida a responsabilidade de cada agente público nas ações necessárias. Um terceiro elemento apresentado no parecer 114/2009 é um elevado grau de incerteza em relação ao prognóstico da qualidade da água, em especial no reservatório dos canais da hidrelétrica.

12. A Licença Prévia nº342/2010, emitida pelo Ibama em 1º de fevereiro de 2010, apresentou quarenta condições para a execução da obra. O cumprimento de várias delas, porém, só poderá ser atestado após a conclusão e pleno funcionamento da obra. É o caso da garantia de qualidade da água, navegação e modos de vida da população da Volta Grande do rio Xingu. A licença também posterga a apresentação das estratégias para garantir a infra-estrutura que antecede as obras. Ela só será definida depois da escolha da empresa que gerará a energia. Estas indefinições estão sendo questionadas por diversos movimentos sociais, ONGs e Ministério Público. Entende-se que não é possível adiar o atendimento destas condicionantes. Após realizado o leilão, a pressão política e econômica do consórcio vencedor para o rápido início dos trabalhos será muito mais forte. Haverá enorme risco de que fiquem à margem do debate fatores importantes para a preservação da vida, e do próprio rio Xingu.

Alternativas: recorrer a fontes limpas, debater
novo paradigma de produção e consumo, rever
relações entre ser humano e natureza

Estes doze pontos, levantados a partir do exame do EIA/RIMA e do relatório do Painel de Especialistas, não esgotam as questões existentes. Uma destas é o perigo iminente de se retomar o projeto original para a construção de hidrelétricas no rio Xingu. Ele previa sete represas, número tarde reduzido cinco. As indefinições existentes sobre Belo Monte torna incerta a viabilidade econômica, o que pode despertar a tentação de “completá-la”. O volume de energia entregue pela usina equivalerá a cerca 39% de sua capacidade máxima de geração – enquanto a recomendação técnica é de pelo menos 55%. Nada impede que o governo, no futuro, proponha “otimizar” o empreendimento construindo novas barragens no Xingu.

É interessante também verificar o envolvimento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Para financiar até 80% de Belo Monte, a instituição precisará se capitalizar, principalmente depois que a EPE reavaliou o custo da obra para R$ 20 bilhões. O banco também financiar o projeto em até trinta anos, dos quais cinco de carência e 25 de amortização. Atualmente, a diretoria do BNDES permite apenas o financiamento em 25 anos, dos quais vinte de amortização. As taxa de juros para o empréstimo ao consorcio ganhador serão as menores do mercado. Vale lembrar que uma das principais fontes de recursos do BNDES é o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), um fundo especial destinado ao custeio do seguro-desemprego, abono salarial e financiamento do desenvolvimento econômico dos trabalhadores e trabalhadoras do Brasil.

Belo Monte é um dos maiores investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal. Como tal, tem recebido atenção especial. Isto ficou particularmente claro em fevereiro de 2010. A Advocacia-Geral da União (AGU) ameaçou processar membros do MPF que se contrapõem ao licenciamento e construção da usina, alegando que as ações judiciais propostas por eles são “sem fundamento, destinadas exclusivamente a tumultuar a consecução de políticas públicas relevantes para o país”.

Diversas comunidades indígenas já deixaram clara sua oposição à construção de Belo Monte. Uma das mensagens foi expressa em carta enviada em 1º de novembro de 2009, ao presidente Lula, pelos povos indígenas Mebengôkre (Kayapó), Xavante, Yudjá (Juruna), Kawaiwet (Kaiabi), Kisêdjê (Suiá), Kamaiurá, Kuikuro, Ikpeng, Panará, Nafukua, Tapayuna, Yawalapiti, Waurá, Mehinaku e Trumai, habitantes da bacia do Rio Xingu e das regiões circunvizinhas. Reunidos na aldeia Piaraçu (Terra Indígena Capoto/Jarina), afirmaram textualmente: “Caso o governo decida iniciar as obras de construção de Belo Monte, alertamos que haverá uma ação guerreira por parte dos povos indígenas do Xingu. A vida dos operários e indígenas estará em risco e o governo brasileiro será responsabilizado”.

O modelo de desenvolvimento implementado na região amazônica tem sido historicamente pautado nos grandes projetos de exploração vegetal, mineral, e hídrica. Isto pode ser verificado nas hidrelétricas de Tucuruí (PA); Curuá-Una (PA); Balbina (AM); Samuel (RO); nos projetos de exploração de ouro em Serra Pelada, no município de Curionópolis, realizado por uma cooperativa de garimpeiros; na exploração de ferro em Parauapebas, realizado pela Vale; na exploração de bauxita em Juruti, realizado pela Alcoa; exploração de níquel em Ourilândia do Norte, pela Vale; exploração de bauxita em Oriximiná, pela Mineração Rio do Norte/Vale; exploração de Cobre em Canaã dos Carajás (Vale); e exploração de bauxita em Paragominas (mais uma vez, Vale). Todos os projetos citados estão localizados no Pará.

Data do final do século 16 o início da exploração dos recursos naturais da Amazônia. Foi sempre um processo autoritário, que se estendeu na fase “moderna”, a partir do final dos anos 1930. O processo tem demonstrado a insustentabilidade do atual modelo de desenvolvimento e, em especial, a urgência de alternativas. Elas incluem um cardápio de transformações. A energia pode ser gerada a partir de fontes limpas: solar, eólica, resíduos da biomassa não-oriundos de monoculturas. Relações humanas sustentáveis não podem sobrepor os elementos econômicos ambientais, sociais ou culturais. O paradigma de desenvolvimento pode perfeitamente estabelecer harmonia entre a natureza e os seres humanos, garantindo a existência primeira do planeta. A insistência no atual padrão ampliará os desastres climáticos e ambientais, já em estágio avançado.

Texto escrito por Dion Márcio C. Monteiro – economista do Instituto Amazônia Solidária e Sustentável (IAMAS), doutorando em Sociologia na Université Paris-Nord (França), e componente do Comitê Metropolitano do Movimento Xingu Vivo para Sempre.

Bibliografia de referência:

> EIA-RIMA da Usina de Belo Monte (em versão “pdf”).

> Relatório do Painel de Especialistas (em versão “pdf”)

> Parecer Técnico Nº 114/2009 / Ibama.

> Licença Prévia Nº 342/2010 / Ibam

Fonte: http://www.outraspalavras.net/?p=995

Acesso à informação, Ciência Tecnologia e Sociedade, Terceiro Setor

4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação foi convocada

Data do evento: 26/05/2010 a 28/05/2010

Local: Brasília – DF, Brasil

Evento acessível? Sim, o evento é acessível.

Informações

A 4ª CNCTI, que deverá realizar-se no primeiro semestre de 2010 (dias 26, 27 e 28 de maio), tem como meta consolidar C,T&I enquanto Política de Estado, que assegure perenidade às políticas e programas associados à produção e a utilização do conhecimento enquanto componentes centrais do desenvolvimento econômico e social do Brasil, contribuindo para que os benefícios decorrentes sejam distribuídos de forma justa a toda a sociedade. Deverá ser precedida por conferências municipais ou estaduais e regionais, que acontecerão até o mês de março/2010. Esses debates deverão ser orientados por um Documento Referência, a ser elaborado pela Comissão Organizadora Nacional da 4ª CNCTI.

Informações adicionais

A 4ª. Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação foi convocada por Decreto Presidencial de 3 de agosto de 2009, com o título “Política de Estado para Ciência, Tecnologia e Inovação com vista ao Desenvolvimento Sustentável”. Sua realização está prevista para 26 a 28 de maio de 2010. Ela será precedida e de cinco conferências regionais (CO, N, NE, S, SE), a ocorrerem até o final de março de 2010. A realização de encontros estaduais e de fóruns de discussão por todo o país devem também ser estimulados como mecanismos de preparação da Conferência. A Conferência deverá nortear suas discussões segundo as linhas do Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Nacional 2007-2010:

I) Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação;
II) Inovação na Sociedade e nas Empresas;
III) Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em Áreas Estratégicas;
IV) Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Social.
Ela deverá analisar os programas e resultados do Plano de Ação 2007-2010, e encaminhar sugestões para a formulação de uma Política de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação que tenha como objetivo principal um desenvolvimento sustentável, cujos aspectos econômico, ambiental e social sejam respaldados por uma discussão ampla com a sociedade. A Política de Estado que deverá emergir dessa discussão poderá contribuir para o estabelecimento da estabilidade política necessária para atingir esses objetivos.
Sob a ótica da sustentabilidade, a Conferência tratará de amplo leque de temas, a serem
definidos por subcomissões e grupos de trabalho constituídos com a participação das
comunidades científica e tecnológica, acadêmica, empresarial e governamental, bem como do terceiro setor. Esses comitês buscarão identificar não apenas os temas mais relevantes, mas também estudos já realizados e especialistas que possam desenvolvê-los e aprofundá-los.
Comparada com as precedentes, a 4ª. Conferência se propõe a agregar a sustentabilidade às discussões anteriores e, além disso, preocupa-se com as estratégias que possibilitem alcançar a estabilidade necessária às ações em ciência, tecnologia e inovação, por meio de uma política reconhecida como de Estado, e não apenas de governo. Por isso, é fundamental que ela se ancore em discussão ampla e aberta com a sociedade, que lhe permita atingir consensos que haverão de contribuir para orientar as iniciativas de governos futuros.
Ela deverá ser voltada para o futuro, pensando para daqui a dez anos sobre os desafios de hoje, tais como a utilização sustentável da biodiversidade, mudanças climáticas, energia, recursos naturais, desigualdades regionais, educação científica de qualidade em todos os níveis, uso da CT para o desenvolvimento social, entre outros. Isso irá requerer uma estrutura flexível, que permita a inclusão de temas que venham a ser sugeridos pela própria dinâmica das discussões, mas que respeite uma estrutura lógica de fácil assimilação.
Um dos grandes desafios da própria conferência será a sua divulgação para o grande público, não apenas nos meios especializados, mas especialmente na grande imprensa, por intermédio de sua ligação com desafios atuais como os já mencionados. Há enormes expectativas, em todo mundo, de que C,T&I venham a encontrar respostas adequadas e compatíveis com o desenvolvimento sustentável que todos almejam. A 4ª. CNCTI poderá ser o veículo natural para enfocar essas questões e liderar o encaminhamento de soluções.

Material de referência

Para subsidiar os trabalhos da 4ª. CNCTI, os registros das duas conferências anteriores constituirão uma base de partida. O “Livro Branco” da 2ª. CNCTI e o “Livro Amarelo” da 3ª. CNCTI, disponíveis no Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), vinculado ao MCT, dão um panorama geral dos dois eventos. Além disso, há cinco DVDs que registram todos os trabalhos do 3ª. CNCTI, que foram transmitidos ao vivo. Lá estão todas as palestras, mesas-redondas e demais atividades. Há também o registro das conferências regionais que precederam a 3ª. CNCTI e cinco volumes do CGEE com os seminários preparatórios realizados anteriormente.
Ao longo do processo de organização da conferência, pretende-se selecionar outros estudos dentre os já realizados pela ABC, SBPC, entidades científicas e tecnológicas, organismos estaduais, FAPs e órgãos de pesquisa como o IPEA e CGEE, além de documentos relevantes de organismos internacionais, bem como encomendar os estudos que se fizerem necessários a essas e outras organizações. O atual Plano de Ação do MCT constitui documento básico, já que a estrutura da conferência segue suas principais linhas de atuação. A Conferência disporá de um portal eletrônico e de uma assessoria de comunicação que tratarão de manter atualizadas todas as informações sobre os eventos a ela relacionados.

Convite à participação

Dado o caráter da Conferência, que pretende discutir uma agenda para um futuro sustentável baseada em ciência, tecnologia e inovação, é crucial a participação ampla de todos os segmentos da sociedade. Convidamos instituições e entidades dos mais diversos setores, acadêmicos, estudantes, empresários, representantes dos vários níveis de governo e de organizações não governamentais a participaram ativamente da conferência e de sua preparação.

Proposta inicial de grandes linhas de discussão para a 4ª. CNCTI para o desenvolvimento social

1. Construção da Cultura Científica

i) Educação Científica e Tecnológica

ii) Popularização da C&T

iii) Patrimônio Histórico: memória, preservação e difusão.

2. Responsabilidades e ações sociais de organismos públicos e privados

i)  Extensão universitária

ii) Responsabilidade social das empresas

iii) Cooperativas e incubadoras sociais

iv) Pesquisa e Inovação para o Desenvolvimento Social

v)  Capacitação em CT&I para o Desenvolvimento Social

vi) Tecnologias sociais

3. Democratização e cidadania

i)   Desenvolvimento regional

ii)  Tecnologias assistivas

iii) Segurança alimentar e nutricional

iv) Inclusão digital

4. Sustentabilidade e eficácia das Políticas Públicas de CT&I para o Desenvolvimento Social

i)  Marcos legais;

ii) Infra-estrutura institucional nesta área;

iii) Articulação com organizações da sociedade civil e com agentes governamentais e não-governamentais;

iv) Controle, acompanhamento e avaliação das ações.

Para saber mais, acesse o link: http://www.cgee.org.br/cncti4/